South Summit Brazil 2023: inverno do venture capital causa ressaca na indústria de fintechs da América Latina, apontam cofundadores de Creditas e Clara
Em painel durante South Summit, os CEOs de duas das maiores empresas de tecnologia financeira da América Latina – compartilham experiências de crescimento e perspectivas para investimento em empresas nascentes |
“Nós estamos vivendo a ressaca depois de uma grande festa no universo das fintechs.” A frase é de Sergio Furio, CEO e fundador da Creditas, startup brasileira de serviços financeiros considerada um unicórnio (empresa com avaliação de mercado acima de US$ 1 bilhão). Furio participou de um painel sobre o mercado latino-americano de empresas de tecnologia financeira no primeiro dia do South Summit, em Porto Alegre (RS), junto com Gerry Giacomán Colyer, CEO e um dos fundadores da Clara, empresa mexicana focada em cartão de crédito e gestão de despesas corporativas que, desde 2021, também opera no Brasil. As startups de tecnologia financeira, especialmente soluções digital first, passaram por um boom de crescimento durante a pandemia. “Isso gerou um impacto forte no mercado de fintechs e na penetração no uso de smartphones. Por exemplo: os medos que as pessoas, especialmente as mais velhas, tinham de usar esses serviços financeiros não existem mais”, apontou Furio. “O E-commerce agregou serviços financeiros, o que aumentou as taxas de crescimento e diminuiu o custo de aquisição de clientes destas empresas.” Para Gerry Colyer, essa expansão também contribuiu para “dar acesso a serviços financeiros básicos para pessoas abandonadas pelo sistema financeiro tradicional”. Com a melhora do cenário da pandemia e a oscilação do mercado de Venture Capital, o mercado foi rigoroso com empresas que não estavam preparadas. “Em uma ressaca, se você bebe mais, você sente mais. Mas nós estamos preparados”, pontuou Colyer. “O capital abundante gera ruído. Muitas companhias pegam (crédito), difícil achar fraquezas de gestão fundamentais para se explorar.” O caminho, segundo os dois CEOs, é usar a crise para “subir a barra”. “Precisamos focar nas coisas que não vão mudar. As pessoas querem serviços mais baratos, mais rápidos e melhores. Isso nunca muda”, disse Furio. Para ajudar nesse sentido, ele acredita em uma disrupção gerada pela inteligência artificial, mas focada nos bastidores. “Muitas tarefas em serviços para clientes, como interpretar contratos, vão desaparecer. Não sei se o Chat GPT é o futuro ou não. Mas não imagino em 5 anos fazermos as coisas no backend do mesmo jeito de hoje.” Além de melhorar a entrega final para os clientes, os empreendedores de fintechs precisam olhar com atenção para a oferta de capital. Para Sergio Furio, a oferta de crédito no Brasil, que já estava escassa, ficou ainda pior com o caso da Americanas. “Isso gerou muito estresse na Faria Lima, muita gente ficou assustada.” Em termos de equity, os aportes em empresas iniciantes – o chamado early stage - estão mais difíceis, exigem mais preparação e contam com investidores mais exigentes, mas ainda existem. Já as empresas mais maduras, que buscam investimentos late stage, precisam ajustar suas expectativas. “A melhor situação para esse perfil de companhia é não precisar de capital.” Crescimento em países latinos Durante o painel, mediado por Juan José Güemes Barrios, da IE University, os CEOs das duas fintechs compartilharam os caminhos diferentes de crescimento que cada empresa adotou. A Creditas começou no Brasil e, em 2020, levou a operação para o México, nas palavras de Furio, “do jeito empreendedor”. “Lá é uma startup, com gestão própria. Nosso CEO [no Brasil] não tem ingerência lá, o CFO não manda lá. É uma aposta de longo prazo, buscando o product-market fit”. Em direção oposta, a Clara começou no México e, pouco tempo depois, trouxe para cá sua operação. “Hoje nós temos atenção dividida entre ambos”, disse Colver, que recentemente também começou a atuar na Colômbia. As duas empresas precisaram se adaptar às diferenças em cada mercado. Furio fez um comparativo no caso de crédito: no Brasil, boa parte da população toma empréstimos, mas com juros muitos altos. Cabe às empresas reduzirem custos – e o uso de imóveis ou carros como garantia, como propõe a Creditas, ajuda a deixar o capital mais barato. Já no México os valores são mais acessíveis, mas apenas 10% da população acessam esses serviços. “Na América Latina o crédito é visto de forma negativa. Em outros locais, como a Europa, tomar empréstimos é uma forma de buscar prosperidade.” Para saber mais sobre o South Summit Brazil 2023 acesse o site oficial. |
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